Por Lilian Casare, colaboradora da ASEc+ que está a frente da Comunidade Alumni desde sua criação
A Comunidade Alumni da ASEc+ é um espaço de promoção de saúde mental, por meio de trocas, acolhimento e pertencimento, criado para as pessoas que já tiveram contato com nossos programas, tais como educadores e alunos. Desde a sua concepção, desejávamos que ela fosse uma comunidade intencional, ou seja, um lugar em que houvesse relacionamento entre todas as partes – e não um simples agrupamento de pessoas com interesses em comum.
Para embasar as ações propostas, um tema é escolhido a cada mês e, semanalmente, lançamos um convite à interação no grupo do whatsapp da Comunidade. “Conexões” foi o tema escolhido no mês de abril e, “Escuta Ativa”, em maio.
“Tatu do Bem” foi a atividade (artefato) escolhida para explorarmos a transição entre os temas. A proposta convida os membros a reconhecer e acolher a sua humanidade, com suas falhas e incompletudes:“Tatu do Bem eu não dar conta de tudo sozinha”, por exemplo. Este artefato tem a intenção de promover autoconhecimento e autopercepção, além de conectar por meio das trocas em ambiente seguro.
Assim que publicamos a proposta no grupo do whatsapp, as trocas de mensagens começaram a chegar: “TATU DO BEM ter comido uns docinhos extras ontem”; “Tatu do Bem eu ser real e não um polvo, assim, faço o melhor possível, dentro do possível: nem mais, nem menos!”.
Uma das participantes, cujos parentes residem em Igrejinha/RS, manifestou a sua preocupação com a situação caótica que havia se iniciado no estado, devido às fortes chuvas. “Gente, desculpem interromper o ritmo da dinâmica… Mas, tenho aprendido que “Tá tudo bem pedir ajuda, quando precisamos”. Então, aqui estou. Agradeço de coração, quem puder…” E dessa forma, ela pede ajuda com doações, pois sua mãe e irmã perderam suas casas e estavam sendo abrigadas em alojamento. Em seguida, uma outra participante residente da mesma cidade, se manifesta.
“Tatu do Bem” eu ficar um pouco sozinha aqui no meu quarto e chorar, chorar muito ao ver toda a tristeza causada pela enchente na minha cidade, ver a casa do meu filho invadida pelas águas, a fábrica de móveis que meus dois filhos abriram semana passada ter perda quase total. Mas, isso são apenas coisas, o que vale são as vidas preservadas. Agradeço à Deus pela situação, que apesar de trágica, não ter causado mortes. Mas, vendo tudo isso tive que chorar…a cidade está tomada pelas águas”.
Mensagens de outros contextos de “Tatu do Bem” continuavam a chegar, enquanto os membros do grupo enviavam reações afetuosas e de acolhimento e estas duas pessoas do Rio Grande do Sul.
Ficou bastante evidente após estes acontecimentos que a Comunidade Alumni está cada vez mais se consolidando com um espaço de acolhimento e de pertencer, onde membros se sentem seguros em pedir ajuda, manifestar o que está mais vivo dentro delas, em diferentes contextos e que todas as manifestações são igualmente respeitadas e validadas, sem julgamento, pois o que cada um traz e o que cada membro é, em sua essência, importa.
Na semana seguinte, devido aos acontecimentos no Rio Grande do Sul e ao forte sentimento de luto e empatia que tomava conta do país, reajustamos nossa proposta de interação (intencionalidade) para poder cuidar dos sentimentos dos membros da comunidade. A partir de perguntas como: Como você está se sentindo hoje? e O que você faz ou pode fazer para cuidar de si?, intencionamos que o grupo acolhesse mais um pouco tudo o que fazia parte do momento presente e experimentasse escutar ativamente, uma vez que cada um estava vivendo suas próprias experiências e sentimentos diante dos acontecimentos do dia a dia, tanto agradáveis quanto desagradáveis.
“Bom dia grupo! Hoje e já tem alguns dias que venho sentindo um mix de emoções, consternada com a tragédia no Sul do Brasil! Não tem como não se comover. Estava refletindo que desde a pandemia que não me sentia assim… Uma dor diante de tantas dores que muitas famílias estão vivendo.”
“Bom dia grupo! Eu estou de luto! Os últimos 40 dias foram intensos, doloridos e muito tristes! Perdi minha mãe dia 25 de abril e meu irmão em 05 de maio. Agora, aos poucos, vou colocar meus dias nos trilhos, cuidar da minha saúde física e emocional e voltar a viver com muita saudade”.
“Boa tarde! Humanamente impossível, blindar a comoção. Ela transborda qualquer barreira que eu queira colocar. Sendo de Santa Catarina, já senti na pele, vivi na realidade, já acompanhei outros… Embora tenha superado e seguido em frente, porque estou VIVA. Ainda assim no acompanhar as notícias, dentro de mim se move angústia, medo, insegurança, incerteza… Respiro e repito: apesar de tudo, essas pessoas vão conseguir se reerguer e retomar suas vidas. Talvez eu ainda repita para mim mesma. Olho para frente e sigo, engajada para fazer o que posso, embora minimamente, para ajudar. Para cuidar de mim, numa relação bem próxima estou organizando muito feliz um encontro de família e amigos para comemorar meus 60 anos!!”
Mais uma vez, o grupo se transformou em um espaço de acolhimento, cuidado, em que é possível fazer trocas seguras e pertencer. Em outras palavras, promover saúde mental!