Ao assumir aquele 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Jean Mermoz no 2º semestre de 2021, a professora Sheila Ferraz de Campos Trimer não imaginava que o que encontraria ali, impactaria a sua vida. Mesmo com bastante experiência em sala de aula, ficou surpreendida com o comportamento daqueles alunos. “Isso não é normal! De onde vem isso?”, chegou a se perguntar. 

O que havia chamado a atenção da professora, era a forma como as crianças lidavam com conflitos e se relacionavam de maneira empática, uns com os outros. Certa vez, Sheila presenciou a conversa entre dois amigos. Um deles, estava muito nervoso porque não conseguiu vencer a partida de um jogo e seu colega falou: “Eu sei que você está nervoso porque agora você perdeu, mas amanhã a gente joga de novo”. Nesse momento, ela pensou: “Que equilíbrio!”. 

A professora afirma que situações como essa eram muito frequentes naquele grupo, como por exemplo, quando alguns alunos a procuraram para dizer que estavam se sentido angustiados e precisavam muito conversar. Em outra ocasião, a habilidade de sentir empatia ficou bastante evidente. Havia um garoto que enfrentava dificuldades em seu ambiente familiar e, um dia, começou a chorar na classe. Os alunos conheciam os conflitos vivenciados pelo colega e o abraçaram. Ficaram todos em silêncio, abraçados, enquanto o amigo chorava. 

Essa série de comportamentos que causaram certo “estranhamento” inicial, eram ao mesmo tempo, familiares para Sheila. Ela notou que a forma como aquela turma falava e agia remetia à época em que assumiu essa sala por um período, quando ainda estavam no 1º ano. Naquela ocasião, eles participaram das aulas do programa “Amigos do Zippy”, que foram ministradas por uma colega de trabalho, e apesar de Sheila não ter sido a professora do curso, pôde acompanhar a maior parte dele. “Ah! Eu sabia que conhecia isso de algum lugar!”, relembrou com alegria. 

Após essa constatação, a professora não teve dúvidas de que as aulas do programa foram como “sementinhas” de habilidades socioemocionais plantadas, que germinaram, desenvolveram e permaneceram. “Eu fiquei impressionada! Quando presenciei as aulas do programa, eu pensei, mas parece tão óbvio identificar o que está sentido e comunicar seu sentimento. O “Amigos do Zippy” é também sobre o que eu passava, mas claro, em outras proporções”, relembra. 

Essa turma do 5º ano, inclusive, a ajudou a lidar com uma situação complexa. Um aluno do 3º ano, que apresentava questões psicológicas importantes, foi transferido para a classe da Sheila, devido ao um forte vínculo que estabeleceu com ela. Os alunos, então, ajudaram muito aquela criança. A turma pontuava quando era momento de prestar a atenção: “Carlos, agora a professora vai falar, você precisa ouvir”; ou quando era momento de esperar: “Eu vou terminar a minha atividade, você consegue esperar?”, recorda Sheila. 

O comportamento compreensivo e empático da turma foi essencial para poderem lidar e cuidar de Carlos. 

A experiência a encorajou a cuidar de seus sentimentos  

A professora Sheila se considera muito “fechada”. Para ela, não é fácil falar sobre sentimentos, mas sabe o quanto a saúde mental do professor é importante para os alunos. “Não tem nada que nós professores ensinamos para as crianças que não passe antes pela gente”, afirma. 

Desde aquele primeiro contato no 1º ano, com as aulas do programa Amigos do Zippy, Sheila tem tentado buscar estratégias para falar como se sente. Porém, foi em 2022, ocupando o cargo de Assistente Técnico de Educação I, da Diretoria Regional de Ensino do Ipiranga, da cidade de São Paulo, que teve, enfim, a oportunidade de participar das formações de capacitação do programa. Imersa no conteúdo da saúde emocional e do desenvolvimento de habilidade socioemocionais, criou coragem e conseguir buscar ajudar profissional para poder conversar e cuidar de seus sentimentos.  

*Carlos é nome fictício 

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