Artigo

Autogestão: um modelo de governança consistente com os valores da ASEc+

Artigo escrito por Eric Ramos Pasquati, um dos colaboradores que hoje energiza o papel de mentor de autogestão na ASEc+

O intuito deste artigo é compartilhar elementos introdutórios sobre a jornada de implementação da autogestão na Associação pela Saúde Emocional (ASEc+), uma organização da sociedade civil dedicada à promoção da saúde mental no Brasil.

Trabalho na ASEc+ desde abril de 2021. Fui convidado a integrar a equipe porque, na ocasião, a presidente Juliana Fleury tinha a intenção de promover uma mudança no modelo de governança. Ela havia lido o livro “Reinventando as organizações”, de Frédéric Laloux, e identificado uma forte correlação entre o propósito e valores da ASEc+ e os princípios do paradigma Teal, apresentado no livro. Juliana vinha incentivando a equipe a se informar a respeito.

Do meu lado, desde 2012, tenho dedicado boa parte do meu tempo ao estudo e prática de métodos alternativos de governança; conhecia o livro de Laloux e, para além disso, senti uma forte sintonia com o propósito positivo da ASEc+, focado explicitamente na promoção da saúde mental – e não na luta contra problemas relacionados à saúde mental*.

O estudo de Laloux é um relato contundente sobre a emergência, na atualidade, de um novo paradigma de governança, que ele nomeou de Teal em um paralelo à “Teoria Integral”, de Ken Wilber. Laloux identificou que organizações de contextos, tamanhos e setores muito diferentes, em diversas regiões do globo, estavam adotando princípios de governança inovadores e muito semelhantes – sem saberem das experiências umas das outras! Um indício do caráter emergente de comportamentos sociais possivelmente ligados ao nível de consciência da humanidade, já que não diretamente relacionados a troca de experiências formais.

Laloux sintetizou os principais avanços dessas organizações em três pontos: autonomia, integralidade e propósito evolutivo. Elas atuam com base em equipes autogeridas, em que acordos sobre relações entre pares substituem hierarquias verticais. Elas valorizam e acolhem a integralidade da expressão de cada colaborador, para além de estereótipos de competência profissional. Nelas, os colaboradores focam em escutar e compreender o que a organização quer se tornar, ao invés de tentar prever e controlar o futuro.

À medida que eu me apropriava dos valores da ASEc+, ia ficando cada vez mais clara a correlação entrevista pela Juliana com o paradigma Teal. Na ASEc+ valorizamos, entre outros**: a abertura, a autonomia, a proatividade, a colaboração, a congruência, a melhoria contínua e a transparência – todos valores consistentes com o modelo de autogestão.

Desde a aplicação das mais simples ferramentas (como estruturação e facilitação de reuniões), passando pela formalização de acordos e a adoção de softwares para acompanhamento dinâmico da estrutura de governança, até os meandros jurídicos de adequação dos documentos legais da organização a este novo paradigma, a implementação da autogestão na ASEc+ tem sido uma longa jornada de aprendizado.

Eu e outros membros da equipe ASEc+ pretendemos voltar aqui de vez em quando para compartilhar elementos desta jornada. Que estes artigos sirvam de estímulo para trocas frutíferas e mais aprendizados. Até breve.


* Sem desmerecer quaisquer iniciativas ligadas à prevenção e mesmo ao tratamento de problemas de saúde mental, pessoalmente, me atrai muito mais a abordagem positiva, de trabalhar a favor de algo, ao invés de lutar contra algo que se quer evitar.

** Veja mais detalhes no Código de Ética e de Conduta da ASEc+.